quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Soul de Aloe Blacc em terras lusas.

Ontem, a Aula Magna virou igreja gospel no Bronx, NY.

O novo príncipe da soul, Aloe Blacc, deu o melhor concerto deste ano até agora em terras Lusas, arriscando-me a dizer que dificilmente algum artista em nome individual que venha a Portugal, irá conseguir superar o que se passou ontem em Lisboa.

Com dois álbuns na mala, "Shine Trough" de 2006 e o captivante "Good Things" de 2010, Aloe Blacc tornou-se num fenómeno da noite para o dia graças ao poderoso "I Need a Dolla" que faz parte da série da HBO "How to Make in America". A música encaixa que nem uma luva no conceito da série onde dois rapazes nova-iorquinos tentam viver o American Dream. Essa ideia foi transportada para "Good Things" onde o Aloe faz um transposição perfeita da América dos nossos dias com um estilo musical do passado que assenta no soul, funk, hip-hop, cozinhado com uma destreza e qualidade que não se via faz tempo.

Perante o estrondoso sucesso de "I Need a Dolla", não foi de estranhar que o concerto estivesse esgotado. O que ninguém estava à espera era que essa música fosse apenas mais uma entre tantas que levaram a Aula Magna ao rubro. Ao fim da primeira música, o público já estava de rabo levantado a abanar a anca e a brincar a brincar, o música tinha toda a gente na palma da mão sem qualquer esforço adicional.

Ele é James Brown, Aretha Franklin, Marvin Gaye, Curtis Mayfield, Michael Jackson, Jackson 5, todos misturados num negro com estilo impecável, movimentos dignos de um soul prince e uma voz brutal que tanto encanta nos falsetes como seduz com os graves. Por muitas comparações que se façam a Sharon King ou a Raphael Saadiq, Aloe Blacc é um artista por si só. O estilo musical é semelhante, mas porra, em palco a história é completamente diferente. Acompanhado pelos Grand Scheme (músicos do camandro, com destaque para o baterista), provou que sabe como manter o espírito soul vivo (aqueles passos de dança devem ter provocado muitos calores às meninas e a uns quantos meninos) sem ocupar o spotlight de forma abusiva, dando espaço para as músicas chegaram aos corações do público focando as atenções na letra, no ritmo às quais acrescenta uma pitada de carisma e satisfação pessoal.

Dois pormenores que me causaram curiosidade neste concerto foram que, primeiro, o público era altamente distinto. Tanto estavam pessoas mais velhas, como miúdos mais novos, como pessoas famosos, como pessoas de diferentes cores e estratos sociais. Isto significa que a sua música agrada a gregos e a troianos, ao contrário do provérbio. Cada um curtia o groove à sua maneira sem se incomodar com olhares estranhos. Segundo, não me recordo de ver uma Aula Magna ao rubro ao fim de duas músicas. Mas ao rubro mesmo ao ponto da temperatura da sala passar de aceitável para "Porra, que calor!". As músicas ao vivo ganham outra vida, uma outra realidade, que obriga as pessoas a virarem cabeças e a abanarem-se como se estivessem numa missa gospel em pleno Bronx.

No fim, ouvi alguém dizer uma frase que resumiu o concerto na perfeição: "Acabei de ter uma sessão de sexo e ninguém me tocou."
Assim se define um concerto de Aloe Blacc.

Fica ainda a nota de atenção para o carinho e ligação que o músico tem com o público porque ficou umas boas duas horas a dar autógrafos e a tirar fotos à porta da Aula Magna sem qualquer tipo de arrogância. Isto é de louvar nos dias que correm.

Se não conseguiram ir ontem, têm uma segunda oportunidade porque ele vai actuar outra vez em Portugal, no Cool Jazz Fest a 28 de Julho.

Deixo-vos com a setlist do concerto (fotografia da autoria da B.)

PS: M, obrigado pelo convite! Devo-te uma!

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